Dia Mundial da Água - Comunicado

Desde 1992 que se celebra, a 22 de Março, o Dia Mundial da Água com o intuito da discussão sobre os diversas temáticas acerca deste bem natural.

Apesar da água ser um recurso abundante no Planeta Terra, transmitindo a ideia da sua inesgotabilidade à escala humana, apenas uma pequena parte desta é potável (cerca de 0,008 %). É fundamental perceber, neste dia comemorativo, que é esta fracção de água que é utilizada na generalidade das actividades humanas. Porém, enquanto a água potável é um bem escasso em algumas zonas do planeta, noutras esta é desperdiçada ou utilizada em diversas tarefas que não necessitam de água potável.

Nos Açores são utilizadas, diariamente, grandes quantidades de água potável para finalidades que não necessitam de tão importante recurso, como determinadas actividades agrícolas e industriais ou, ao nível do cidadão, águas sanitárias, rega de jardins, lavagem de carros e edifícios, entre outras.

Sendo a gestão da água de consumo público estruturada numa lógica de abastecimento, através de um sistema centralizado, é fundamental o entendimento, ao nível do cidadão enquanto consumidor final, de que cada litro de água potável consumido numa habitação é muito mais que esta quantidade de água. No percurso da água até à sua utilização final o que compreenderá a captação, o tratamento e o transporte, bem como o controlo e manutenção da integração destes sistema, onde terá de ser considerada a precariedade de muitos destes sistemas, que implicam, no caso de alguns municípios dos Açores, perdas de água próximas dos 50%. Consumir água fornecida pelos sistemas de abastecimento é, pelos motivos referidos, consumir também energia e matérias primas, com os devidos custos ambientais e económicos associados.

Previsões do Instituto de Meteorologia apresentadas, em recente sessão pública sobre alterações climáticas organizada pelos Amigos dos Açores – Associação Ecológica, apontam para a possibilidade de Invernos mais frios e com a precipitação temporalmente mais concentrada e para Verões mais quentes, o que poderá condicionar, a médio prazo, períodos de seca em algumas ilhas dos Açores, dada a potencial diminuição de retenção e infiltração de água.

Perante este cenário, urge, nos dias correntes, uma abordagem social da água que vise uma gestão mais descentralizada, que valorize o armazenamento e reutilização deste recurso, ao nível do cidadão. Para tais pretensões não são necessários significativos inventos. Basta recordar que, por exemplo, há poucos anos era recorrente a recolha e armazenamento de água pluvial através de cisternas. Porque não utilizar, hoje, os edifícios para colectarem água que pode ser utilizada em rega, entre outras finalidades? Porque não utilizar sistemas inteligentes que reutilizem, por exemplo, água de uma banheira num autoclismo?

Dado o valor estratégico do armazenamento e reutilização da água, aproveita-se este dia comemorativo para alertar para a necessidade da gestão descentralizada da água, que deveria ser incentivada pelas entidades governamentais, tal como acontece na produção da energia para auto-consumo, uma vez que investimentos nesta área permitirão uma maior eficiência quer ambiental quer económica a médio prazo.